Tenho um tio no Brasil
Que ontem me telefonou.
Entre notícias e anedotas
Muitas coisas perguntou.
Queria saber de tudo
O que por aqui se passa.
Recordar velhos tempos
Das lindas cachopas
Que hoje já não comem pipocas
Das saias plissadas
De blusas bordadas
A caminho da Romaria
__ O tio ainda se lembra ?
__ Quem diria !
Em tardes amenas
De sagrados ritos
Íamos todos
Ao Senhor dos Aflitos
À senhora do Circo
À Senhora das Dores
Iam em novenas, crentes e ateus
Lá para os lados de S. Mateus.
Por tudo o que ouvi
Promessas, cantigas e rezas,
Tanta pulga, tanta mosca
Davam ao santo com regalo
O meu tio foi levar
Os tomates de um galo.
O tio lá do Brasil
Gargalhava como um tolo
Lembrava-se dos Milagres
Para os lados de Cernache
Quando trazia o bolo
No andor e aos ombros
Com os outros rapazes
Piscava o olho às raparigas
Que com olhares fugazes
Se escondiam nas esquinas
Pensando no bailarico
Quando a noite,escura como bréu
Escondesse um ou outro beijo
E a lua suspensa de uma estrela no céu
Aproveitando muito bem o ensejo
De ver os rapazes Alguns forasteiros,
Por entre as mocinhas, sempre animadas,
Tinham mais brilho que mil candeeiros !
Ah ! E o piquenique ?
Comido à sombra das oliveiras.
Comíamos fruta madura,
Tão doce como alguns beijos,
Polvilhada com ternura.
No caminho, bebíamos água cristalina,
Em taças feitas de folhas de couve
Refeição assim tão fina
Decerto que nunca houve !
Ah ! Como é bom recordar
O piquenique no prado,
Hoje só quero sonhar
Mesmo estando acordado !
Meu tio lá no Brasil
Ainda falou com emoção:
Que do manto azul do céu
Fez alvos guardanapos
Para aqueles piqueniques.
E quando o Sol adormeceu
Tirou muitos retratos ....
Adeus, tio, até à próxima
Disse eu, quase a chorar.
__ Rapariga, deixa estar,
Que a vida só vale a pena
Se usarmos como lema
O que por nós foi recordado. !!
Natércia Martins
2006
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