Estrelas e Planetas
Fez um percurso normal na escola, denotando já preocupação e vontade de
estudar a Natureza. José foi um bom aluno, apesar de não ser estudante muito
acima da média. Já, nesse tempo se preocupava com a observação das plantas e
animais. Era alegre e parecia estar sempre a gozar com o professor.
Respostas rápidas e sempre a tempo.
Ainda em criança e depois adolescente gostava de fazer campismo e junto
com os pais e irmãos correu muito do país. Assim, em contacto com a Natureza,
viu que o ar é mais leve e a noite mais atractiva que a ruas iluminadas da
cidade.
Sentava-se junto da tenda e ouvia o silêncio do parque. Tudo sossegado
e as estrelas lá em cima como pontinhos brilhantes que bordavam o céu.
Na verdade, cada pontinho brilhante faz parte de um grupo com formas
geométricas. Descobriu a Ursa Maior, Ursa Menor, Cassiopeia e Orion e muitas
mais constelações.
Mais tarde, com dinheiro que foi amealhando, comprou uns binóculos.
Passou a observar a lua, redondinha, cheia, cravada no céu. A lua sorria-lhe e
ele sorria para ela.
Convidou o amigo Luis para passar um fim-de-semana no campismo. Este só
conhecia a noite na sua rua. Perto de casa. Admirou-se, porque as paredes da
tenda eram de pano e a cama no chão. Mesmo assim, gostou de observar o céu como
nunca o vira. Era lindo!
E o gosto foi-se avolumando.
José ouviu a notícia que, numa noite de lua nova, ia acontecer uma
grandiosa chuva de estrelas. Mais uma vez pesquisou no computador. A chuva de
estrelas não é mais que meteoritos que ao entrar na atmosfera se desintegram em
pequenos fragmentos incandescentes, dando a ilusão de estrelas a mudar de sítio.
Muita gente ainda pensa que são estrelas cadentes e é costume pedir um desejo,
enquanto deixa atras de si um rasto de fogo. E ele também pediu um desejo,
muitos desejos, perdidos na sua cabecita de adolescente.
Tantos desejos como estrelas cadentes que viu naquela noite. E foram
muitas.
O tempo foi passando e o gosto pela observação agudizou-se. Pesquisou e
comprou revistas.
Como todos sabemos a aldeia é cheia de lendas em que bruxas e
lobisomens são os principais actores.
O meu vizinho, sentado sentado na soleira da minha porta, numa noite
quente de Agosto contava histórias. É um bom contador de histórias.
Contou, numa dessas noites, que no cruzamento ao fundo da ladeira as
bruxas se juntavam em grandes farras em noites de lua cheia. E contava, também,
que o patrão delas, cornudo e pés de cabra as acompanhava nas danças à volta de
uma grande fogueira.
Dizia conhecer um homem da aldeia, que sentado à lareira, via passar
todas as noites, à sua frente, uma galinha pedrêz. Uma noite, já farto,
arrumou-lhe com a tenaz do lume. A galinha desapareceu, mas a mãe dele, de manhã,
estava de cama com uma perna partida. Concluiu que a galinha que lhe passava em
frente todas as noites era a mãe transformada em bruxa e também dançava todas
as noites, ao fundo da ladeira, com o tal cornudo com pés de cabra.
Com estas e outras histórias semelhantes se faziam os serões, no verão,
à porta da rua.
Numa noite escura de breu, o José convidou o vizinho Luis para mais uma
observação observação lá em cima, no barreiro, perto do pinhal. Dizem que andam
por lá almas penadas (estas andam por todo o lado), bruxas e labisomens.
Montaram o tripé, os binóculos e um pequeno telescópio. O canto dos
grilos e o piar de um mocho, cortou o escuro. De resto, o silêncio.
Sem se fazer ouvir um outro vizinho cuscuvilheiro, foi, de mansinho,
ver por onde andavam os rapazes. Aproximou-se. O luis, brincalhão, escondeu-se.
O homem quis ver pelos binóculos. Sentiu uma ponta do casaco a ser
puxada devagarinho. Soltou um suspiro. Arrepiou-se. Era verdade! Duvidou. Outro
puxão no casaco. As bruxas!
Desatou a correr e só parou quando os rapazes desataram a rir às
gargalhadas.
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