Domingo de um agosto com sol
descoberto há algumas horas já.
Sentei – me na cadeira de
praia que tenho na varanda.
Àquela hora, manhã cedo e já
os barulhos característicos da mata se faziam ouvir ali tão perto.
Gosto particularmente do canto
das cegarregas, que só se calam no inverno. Elas conversam umas com as outras e
talvez com quem mora ali perto. Há quem as sabe entender. Gosto. Pronto!
Olhei, mais uma vez o relógio,
cujos ponteiros teimam em não se mover. Lentos, lentinhos para o meu gosto.
Avizinhava-se uma tarde de
domingo chata, sem nada que fazer. Pelo menos não me apetecia fazer nada.
Ler um livro? Não! Escrever?
Também não! Bem puxava a “ponta do fio” que teimava em não aparecer. Quando o
fio aparece as palavras saem em catadupa. Não era o caso. Nada!
Peguei na chávena vazia do
café que bebi e que me soube tão bem. Ao menos isso.
Já que ideias não havia nada.
A chávena deu uma série de
voltas na minha mão. Vá lá não caiu! Mas ideias …… Nada!
Do fundo da rua alguém chamou.
__ Bolas! Num domingo de
manhã, com tanto calor e já me chamam.
Não me apetecia ler, não me
apetecia escrever e não me apetecia falar. Os ponteiros do relógio continuavam
a não querer andar.
Tornaram a chamar. Respondi
quase só para saberem que estava ali já acordada.
Do fundo da rua perguntaram:
__ Quer vir? Vamos fazer uma
caldeirada à beira rio.
Respondo e vi que algumas
pessoas me esperavam ao fundo da escada.
Levavam uma panela, uma trempe
para a fogueira, e a parafernália de instrumentos de cozinha.
Também levavam cebolas,
batatas, pimentos, alhos. Enfim! Tudo o que era preciso para a dita caldeirada.
A fome ia connosco. Vi que
levavam uma bola e muita conversa. Isso era bom.
Chegados à beira rio,
apanharam uns gravetos que por ali havia e fizeram uma fogueira acautelada por
pedras, não fosse o fogo “fugir”.
A Senhora Adelina tomou conta
da situação. Vagarosa, sem pressas colocou a panela no fogo, cebola às
rodelinhas, as batatas, o tomate, a salsa, o pimento, etc etc.
O peixe entrou cuidadosamente.
Primeiro o mais firme. Depois o mais delicado
A panela fervia num fogo
lento. Ali não havia pressas. Afinal tínhamos a tarde de domingo por nossa
conta.
O cheiro da panela aumentava a
nossa vontade de almoçar também. E a caldeirada não havia jeitos de sair.
A cozinheira abriu a panela.
Que rico cheirinho. A panela fervia
agora mais lento ainda. A apurar!
Jogámos à bola, à corda, ao
pião e finalmente a bendita caldeirada.
Estava boa. Muito boa! Eu que
gosto pouco de tal prato.
Já noite fechada votámos para
casa. Passei uma tarde de domingo sem me lembrar que, quando saí da cama não me
apetecia fazer nada.
Belíssima aquela tarde.
Quando voltamos?
Natércia Martins
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