A
candeia da minha bisavó
A minha avó
tem, pendurada, por cima da lareira, uma candeia. É muito
velha e não está em muito bom estado.
Diz que era da
avó do meu pai, portanto, minha bisavó. Tem um depósito
que se enchia de azeite e por cima uma torcida feita de trapo velho.
Era a iluminação daquele tempo.
Numas férias
em que fui passar uns dias na aldeia, fiquei sozinha enquanto a minha
avó e o meu avô foram tratar dos animais ao quintal.
Sentei-me no
cadeirão, onde se senta o meu avô, frente à
lareira acesa e olhei mais uma vez para a candeia. Arregalei os
olhos. É que a sair do bico da candeia, muito devagarinho
vinha uma menina vestida de cor-de-rosa e trazia uma varinha na mão.
Fiquei muito admirada.
Oh! Vinha
falar comigo.
__ Sara! Olha
à tua volta.
Sentados nos
degraus da escada estavam os anõezinhos, a Branca de neve, o
Pirata com uma perna de pau e Ali Bábá, o capuchinho
vermelho e o príncipe da história da Cinderela. A
Cinderela também lá estava.
O sebastião
dormia enroscado mesmo ao lado, levantou uma orelha, depois outra,
mexeu a cauda e acordou. Quando viu tanta gente ia para se levantar
assustado, mas eu disse-lhe que estivesse quieto que todas aquelas
personagens eram das histórias que eu lia em pequena.
Um tapete
mágico aterrou mesmo aos meus pés. Sentei-me em cima e
voei pela janela aberta. Passei por cima das ruínas romanas de
Conímbriga. Ali havia romanos e escravos a morar.
Na casa dos
repuxos uma menina como eu chamou-me:
__ Sara! Vem
brincar com estas pedrinhas que apanhei ali no lago.
Assim
estivemos durante muito tempo.
A menina
ria-se muito e eu também. Corremos por entre os muros do
palácio. Já perto da noite veio uma criada buscá-la.
E agora? O tapete voador tinha fugido e eu fiquei sozinha a chorar
muito. A tal senhora vestida de cor-de-rosa veio ao meu encontro.
Vinha a cavalo no gato da minha avó. O sebastião pousou
e lá fomos as duas outra vez para casa.
Quando entrei
era uma festa. Os anões brincavam à macaca, o pirata
fazia piruetas só com uma perna, a Branca de neve ria-se muito
com estas brincadeiras.
Enquanto isto
se passava, bateram à porta. Era o lobo mau que fugiu da
história da menina que ia levar o lanche à avozinha, na
mata, e os caçadores vinham atrás dele.
A rapariga do
Capuchinho vermelho também estava senta junto à lareira
com o cestinho cheio de bolos, no colo.
A minha avó
e o meu avô chegaram do quintal e correram com o lobo mau.
Esta história
ficou uma trapalhada mas é uma pequena prenda dos teus 10
anos.
Quando vieres
a casa da avó lembra-te da candeia da tua bisavó que
continua pendurada num prego por cima da lareira. Pode ser que a
menina vestida de cor de rosa te venha visitar de novo.
Natércia
Martins
2012