segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Pedido


Sentado junto à lareira, com olhos fixos na chama, um menino de olhos esbugalhados, pensava no Natal.

Um dos irmãos ouviu na escola que o Pai Natal trazia presentes aos meninos que se portavam bem, que andava vestido de vermelho e um enorme saco às costas. As renas e o trenó paravam junto às chaminés e nunca se cansavam.

Então, ali ficou pensando que se tivesse sido bom menino, certamente teria o seu presente. Os irmãos brincavam e faziam barulho. A casa era pobre e tanto o Sol, no Verão, como o luar, em noite de lua cheia, entravam por entre as frestas das telhas.

E o menino olhava para as labaredas, no borralho, na esperança vã de um presente.

Na mesa não havia bolo-rei, rabanadas, filhós ou arroz doce. Isso era para os ricos !

A comida era sempre pouca, e uma sardinha partida ao meio já era bom manjar.

O naco de broa comia-se devagar a “ fazer render” porque não havia mais.

E o menino olhava, olhava, e o Pai Natal que não chegava.

__ Eu quero uma bola, dizia a irmão.

__ Eu quero uma boneca, como que a dizia a irmãzita.

__ E tu ? Perguntou-lhe um dos irmãos, mas nem esperou pela resposta, correndo, como que a fugir da resposta, que nem ouviu.

E o menino ficou sentado na lareira, pensativo.

De vez em quando, vencido pelo sono, a cabecita deslizava para a frente. Mas ele teimava em ficar ali sentado. Queria ver e talvez falar com o Pai Natal.

Imaginava um homem velho, de barbas brancas, vestido de vermelho que carregava um grande saco cheio de sonhos. Sonhos de meninos ricos e pobres. Mas ele era pobre. De certeza que passava pela sua casa e nem olhava. Passaria à frente ?

A casa tinha pouca coisa. Uma mesa, bancos e a lareira, que com a chama dava calor e também luz.Algum conforto.

O pai trabalhava na fábrica. Os irmãos mais velhos iam suportando conforme podiam a falta da mãe que, com grava doença, morrera há já algum tempo.

A avó aparecia lá por casa de vez em quando. Arrumava e deixava comida feita. Ele, homem duro, trabalhador de fábrica no sector das máquinas pesadas, acarinhava como sabia e o gene humana, lhe permitia, os filhos. Casar, de novo, estava fora dos seus planos. Havia de se “ desenrascar”. E lá ia fazendo a sua vida.

Como era noite de Natal, atiçou a lareira um pouco mais com gravetos que trouxe do pinhal, propositadamente para aquela noite, ficando assim a arder pela noite dentro.

Olhou o filho sentado ao lume.

Estranhou. O menino não costumava ficar assim tão quieto.

Pegou-lhe ao colo. Um beijo, enquanto o filho lhe enlaçou o pescoço com os bracitos frágeis. Dos olhos do homem rude rolaram duas grossas lágrimas que se alojaram nas faces rosadas do filho.

__ Filho, o que foi ?

__ Gostava de ver o Pai Natal.

__ O Pai Natal só passa lá pela noite dentro. Vou por-te na cama.

__ Mas eu não quero dormir ....

__ Os teus irmãos já dormem !!

__ Não quero. Tenho que pedir uma coisa ao Pai Natal.

__ Diz-me o que queres .

O menino ficou calado. Olhou a chaminé, depois a porta e disse:

__ Eu quero a minha mãe !!!!


Natércia Martins

2009


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