domingo, 17 de junho de 2007

Os Zazuinos



Vejo-os passar sempre juntos.

Quase sempre pela uma da tarde ou, então, rente à noite.

Com dois carrinhos de mão, pouco pesados, que o peso trazem eles em sacas de linhagem ou ráfia, empilhados em cima umas das outras, presas com um cordel . Dentro das sacas levam pinhas.

Pinhas dos pinheiros, apanhadas pacientemente, uma a uma. Não sofrem de “ stress” , nunca a paciência lhes faltou à procura das ditas infrutescências.

Faça sol, faça chuva, lá passam eles todos os dias.

As pinhas, essas, vendem-nas a quem as encomenda.

Sustento do pão de cada dia. Conversa fácil de quem tem pouca cultura. Conversa fluente, simples, a falar sempre do mesmo: o monte, as pinhas, os pinheiros.

Sempre os dois. Inseparáveis há um ror de anos. Não tiveram filhos, porque uma operação mal feita lhes roubou esse prazer e a deixou estéril.

Não pedem nada. Aceitam o que lhes dão. Vivem das suas pinhas que vendem barato. O dinheiro apurado, chega para o “ conduto” que os alimenta dia a dia. Vida vivida dia a dia, sem precalços de maior, sem correrias.

Apenas, ele, bebe um “ copito” de vez em quando. Nada de grave. Nada que não se cure com uma soneca. Mas só de vez em quando .... que a vida são dois dias.

O que gosto de ver neles, é a amizade, a companhia que fazem um ao outro. O trabalho simples em conjunto, com tanto valor como um qualquer funcionário de grande empresa.

Cada um faz aquilo para o que está habilitado, ou melhor, cada um faz o que sabe.

Ela carrega um pequeno luxo: duas meias libras em ouro, penduradas nas orelhas.

Brincos bem antigos. Prenda da mãe quando se casou.

Dinheiro amealhado, tostão a tostão, também pacientemente guardado dentro de um porquinho de barro.

Aqui na Carapinheira, toda a gente os conhece.

Da minha parte, apenas esta pequena homenagem à sua amizade ou mesmo ao amor que têm um pelo outro e talvez, eles próprios nem saibam que têm


Natércia Martins






Nota: Numa das minhas idas ao Museu vim a saber que a Dália morreu Era assim que se chamava esta mulher.

Chorei sentida e sem falsa vergonha de o fazer. Afinal era uma pessoa que, de tanto a ver passar, me afeiçoei. Tenho saudades dela.

Que Deus a tenha em bom descanso .



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