Era quase sempre assim que uma
moda se começava a dançar num ritmo calmo com os corpos bem juntinhos e os
rostos quase unidos. As mãos seguravam sonhos e fantasias, muitas vezes só na
cabeça do rapaz ou da rapariga.
Os bailes dos anos sessenta ou
mesmo de setenta eram calmos bem ritmados por uma balada e o cadenciado dos
passos no chão da sala.
Fui a muitos desses bailes.
Teria os meus quinze anos
quando fomos a um baile de carnaval ao salão do Clube. Teria “bom pé” porque
nunca mais parei. Lembro-me tão bem! O rapaz, cujo nome nunca esqueci, também
dançava muito bem.
Eramos sempre acompanhadas
pelas mães ou irmão. As mães sempre vigilantes não fosse o rapaz atrevido e
roubasse um beijinho ao seu par. Era assim nesse tempo.
Havia muitas espécies de
bailes. Eu gostava de todos desde que se dançasse.
Na eira do Ti Chico também se
faziam. O som da concertina mais ou menos afinada com alguma “fífias” pelo meio,
tocava as modas da época. O convívio e a folia reinavam e também havia
namoricos que começavam naqueles bailes.
Os rapazes das aldeias
vizinhas apresentavam-se para dançar, o que não era bem visto pelos da aldeia e
quantas vezes o baile acabava à paulada. Sim porque o rapaz desse tempo
fazia-se acompanhar de um cajado que deixava no lado de fora do local do baile.
O meu pai chamava – lhes baile
de coça barriga.
Também, na época, se usava o
buffet que na maioria das vezes não era mais que uma mesa e copos onde se
vendia cerveja e vinho.
Os rapazes bebiam pouco mas
juntavam-se ali por perto na conversa. Quando a música começava lá iam eles à
procura do par. Muitas vezes o par já era certo e não se dançava com mais
ninguém.
Os “pés de chumbo” é que eram
uma chatice. Não sabiam dançar e pisavam os pés da rapariga. Uma vez, que me
lembre, apanhei um desses pés de chumbo e deixei-o no meio do baile. Chorei
muito pois eu gostava dele mas não conseguia dançar.
Não raras vezes as raparigas
olhavam como que a escolher o rapaz. Eles também já sabiam e faziam sinal como
a marcar o lugar. Os que não viam e vinham à frente levavam “tampa”. Era assim
que se dizia.
A rapariga que não dançava ou
porque não conseguia par ou mais envergonhada ficava sentada. Chamava- se a
isso um “banho de cadeira”.
Alguns bailes que se faziam
tinham nome: baile da primavera, baile de carnaval, baile da pinha ou mesmo só
baile. Tudo servia para se dançar.
O baile que se fazia à tarde
era chamado de chá dançante. Acabava à hora de jantar.
À noite, acabava de manhã
quase sempre com marchas onde se faziam comboios com toda a gente a
divertir-se. Era sinal que naquele dia, ou noite não havia mais. Hora de rumar
a casa.
A rainha do baile era
escolhida entre as raparigas mais bonitas. Colocavam uma faixa quase sempre
cor-de-rosa.
Também se faziam ao som do
gira – discos com discos de vinil. Havia um habilidoso que comandava o som e
tinha que colocar a agulha no sítio certo e na pista certa, na música que
queria.
Mais tarde já eram
abrilhantados por conjuntos com as guitarras elétricas e cabelos à Beatles.
Apareceram os Delfins, Gatos
Negros e outras bandas cujo nome já não me lembra.
Mudam-se os tempos e as
vontades.
Mas como alguém dizia: o sonho
não envelhece.
Hoje fazem-se bailes para
gerações mais velhas até mesmo em discotecas. As pessoas mais velhas têm o
direito de se divertir, conversar e recordar os seus tempos de juventude.
Quantas dessas pessoas não
tiveram a oportunidade e só agora a conseguiram. A cabeça e principalmente as
pernas ajudam. E fazem muito bem!
Será que ainda se usa: a
menina dança? E porque não?
Natércia Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário