Era isso !
Como fazia frequentemente, Marta saiu de casa e dirigiu-se ao rio. Gostava de dar um passeio manhãzinha, cedo, ver os raios de sol a entranharem – se por entre os pinheiros . Quando o sol nasce o ar tem um cheiro diferente do resto do dia. O ar é límpido e os sons despertam os nossos sentidos.
As sapatilhas faziam no carreiro de pedras soltas e miúdas “ chap- chap” . Um gafanhoto saltou, despertando Marta dos seus pensamentos.
Lá bem ao fundo no meio do jardim destacava-se a casa de Isabel. Ao passar em frente do grande portão de ferro Marta teve um arrepio como se fosse um choque eléctrico.
Isabel era amiga desde a escola primária. Partilhavama mesma carteira, as mesmas brincadeiras e o lanche era repartido pelas duas, a maior parte das vezes.
Onde estava Marta, estava Isabel.
Amizade sólida. Durante o liceu a amizade nunca arrefeceu. Nos primeiros anos as duas continuavam a brincar e a partilhar os livros,o lanche e as conversas, tanto no recreio como no café.
Os primeiros namorados trouxeram algum distanciamento, uma vez que tanto uma como a outra se quedavam na conversa com os rapazes. No entanto , não passava um dia que as duas raparigas não se encontrassem
Um dia Isabel confidenciou à amiga que o seu namorado lhe dera um beijo. Coisa do outro mundo ! Marta encolheu os ombros com desdém. O namorado dela não passava de uma mão pelo ombro e uma carícia na face. Mas ela queria mais e ele não correspondia à chama que a consumia por dentro. Pensou em o atrair ao rio e aí ela matava o desejo. No entanto ele ia recusando o convite. E ela revoltava-se.
A amiga já não lhe dispensava tanto tempo entretida com o namorado que agora a absorvia.
Marta não gostava. Uma onda de ciúme corroía-a por dentro. Ela não gostava de ver a amiga de mão dada com o namorado e muito menos quando eles se beijavam. Não conseguia explicar o porquê de tanta revolta. No quarto, de noite chorava. Via a amiga nos braços do rapaz. Deixou de estudar e as notas baixaram. Chumbou nos exames. Foi chamada à atenção muitas vezes, tantas como teve que explicar que não tinha nada, mas que os programas eram difíceis e não conseguia saber tudo.
Isabel entrava sempre nos seus sonhos e aí era feliz.
Nos intervalos das aulas procurava saber onde estava Isabel. Tornou-se obsessão. Não via mais ninguém, apenas Isabel, Isabel, só Isabel.
Junto ao rio sentou-se. O marulhar das águas fazia um ruído agradável. Uma rã saltou, como fizera o gafanhoto e Marta sobressaltou-se de novo.
Uma voz interrompeu a quietude das águas.
__ Marta ! Passaste junto a minha casa e não me chamaste !
__ Não. Estavas com o teu namoradinho. Já não me ligas !
Marta sabia que não era bem assim Isabel nunca dexara de a procurar para um café ou contar as suas últimas aventuras. Franziu o sobrolho e riu-se.
__ Não sejas tonta. Vem comigo até minha casa. Ao pegar-lhe na mão estremeceram ambas e um calor abrasador invadiu –lhes os rostos . Era isso !
Entraram na casa vazia de Isabel.
Entrelaçaram as mãos, entraram no quarto e os lábios de ambas tocaram-se ao de leve. Com a ponta do pé Isabel deu um empurrão na porta que se fechou com estrondo ..................
Natércia Martins
2010
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