segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ser criança


Nasci de um minúsculo espermatozóide que se jntou a um óvolo. Fui mais rápido. Mas para isso tive que me esforçar e nadar, nadar. Ser o primeiroa lá chegar.

Depois, no quentinho de um ovo fui crescendo, no escuro da barriga de uma mulher que, sem saber ainda que eu lá estava, já gostava de mim.

É que eu fui desejado e planeado.

Ouvia vozes na rua. A voz da mulher era suave e quente.

Fui crescendo e a barriga avolumando.

De vez em quando ouvia as vozes, sempre vozes meigas fazerem a pergunta:

-- Será menino ou menina ?

E eu, lá dentro da barriga, quentinho, enroladinho, preso pelo cordão umbilical, ao útero da minha mãe.

Que bom ! Não vou sair daqui, nunca ! Pensava eu !

Mas o dia e a hora chegou. Mais uma vez tive que fazer força, muita força para sair por um túnel muito estreito e escuro.

Finalmente, cá fora, levei logo duas palmadas para chorar e assim os meus frágeis pulmões abrirem e eu puder respirar sozinho.

Comecei a outra aventura da minha vida a chorar. Ouvi o meu pai e a minha mãe a rir de felicidade.

Lavaram-me, vestiram-me e deitaram-me junto da minha mãe. Meu Deus, como eu tinha fome e o leite corria quentinho, aconchegando o meu pequeno estômago vazio.

Depois dormi. Dormi muito.

Uns dias mais tarde fui para casa dentro de uma alcofa onde me esperava um quarto cheio de bonecos e uma cama bem cheirosa.

Chorei, ri, estive doente, tive sarampo, tive os dentes a nascer um a um e gatinhei.

Um dia de manhã, descobri que em cima das mesas e armários havia objectos a que eu podia chegar. Que giro ! Olhar por cima da mesa e ver tudo. Os pratos, os copos, o pão .......

Os dias resumiam-se a comer, dormir e brincar.

Finalmente mais outra etapa da minha vida: A escola !

Lá fui, agarrado à mão forte da minha mãe.

Esperava-me a professora. Uma senhora muito maior que eu. De bata branca e óculos no nariz. Trocou algumas palavras com a minha mãe e ainda ouvi: -- Depois venho buscá-lo.

Uma sala enorme me esperava. As mesas e cadeiras, tudo em fila. E um quadro preto, enorme com letras que eu não entendia.

Aquilo não me agradava nada, mesmo nada !

Olhei desconfiado em volta. Afinal não era só eu. Havia mais meninos e meninas. Outra fase da minha vida que se iniciava ali.

Joguei ao berlinde, à bola, rasguei as calças, subi às árvores.

E os dias foram correndo devagar.

Afinal aquilo até era engraçado. Aprender a ler e escrever. Letra a letra, número a número.

Agora sou capaz de ler as aventuras dos livros e tornar-me participante nessas mesmas aventuras.

Esperam-me outras aventuras pela vida fora até crescer, deixar de ser criança e tornar-me numa pessoa realizada e feliz.

Ser criança é o melhor do mundo, mas ser criança não é nada fácil .....


Natercia Martins

2010


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