sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Gralhas


A palavra “gralha” pode significar uma espécie de ave que faz imenso barulho mas não canta.

Chamamos “ gralha” a uma pessoa que fala muito, mas pouco se aproveita do que diz.

Pois bem, “ gralha” é o que as pessoas chamam a um erro que,por razões variadas, sai numa publicação e que passa a qualquer revisor, por mais atento que esteja.

Num dos Jornais “ Ecos do Mondego” saiu uma “ gralha”na receita da caldeirada à beira-rio, que alterou todo o sentido do texto. Dizia a receita que além do ruivo, safio, tomate,batatas, etc, etc, levava 12 Kg de berbigão ou ameijoa e 12 Kg de pão torrado. Convenhamos que seria demasiada quantidade em relação aos outros ingredientes.

Certo é que as pessoas comem bem quando em boa companhia ou local aprazível. Mas 12 Kg ........ seria demais .... Ao preço que as coisas estão ! ....

O que se escreveu era apenas 1,2 Kg de ameijoa e pão torrado.Quando da conversão de programas os computadores suprimiram as respectivas virgulas.

As novas tecnologias são assim. Muito boas, significam progresso, mas também erram. E foi o caso. Acontece....

Passou na revisão que se fez e como o primeiro tratamento gráfico é da minha responsabilidade, daqui peço desculpa pela dita “ gralha”.

Pessoa amiga de longa data, e a quem envio, pontualmente o jornal, encontrou-me na esplanada de um café, onde calmamente bebia uma “bica”, e falámos das cheias do Mondego, dos lamigueiros que se encontram em vias de extinção como muitas outras espécies, noutros locais do planeta.

Falámos dos “ Ecos do Mondego”, como não podia deixar de ser. E, claro, falámos da “ gralha” que alterou todo o sentido da receita, mas também chegámos à conclusão que facilmente se dava pelo erro.

Falámos durante muito tempo. Desfiámos recordações, como sempre fazemos quando nos encontramos. Então contou-me que, havendo uma festa na aldeia, foi assistir a um concerto dado por uma Banda Filarmónica.

O palco enfeitado com fitinhas de papel abanavam ao vento.Ouviam-se os acordes da referida Banda numa “ arruada” visitando os mordomos, convidando a população depois do jantar.

O recinto bem composto de gente que vendia farturas, algodão doce chupa-chupas. Havia lá ao fundo a barraquinha das rifas, vulgarmente conhecidas por quermesse, onde sai sempre prémio: canecas, vasos de flores, caixinhas de madeira, etc, etc.

Os músicos apresentavam-se impecavelmente vestidos. Lá bem no meio, estava um que dava nas vistas. Impertigado, na sua farda azul, camisa branca e boné a esconder o cabelo cheio de gel. Bem arrumados no palco. Sentados em cadeiras mais ou menos cómodas começou o concerto.

O mestre deu o sinal e todos afinados tocaram músicas bem conhecidas.

O público aplaudia. O rapaz impertigado e cabelo cheio de gel ia espreitando, a ver, se alguém dava pela sua presença. É que se aprumara mais que nos outros dias. Podemos dizer que estava vaidoso, muito vaidoso, do seu saxofone, negro e botões amarelos a luzir, ainda novinho em folha. A luzir.

Mais uma música. Tudo em ordem. Um abanar de ombros ajeitando a farda e o instrumento. Mais uns acordes. O mestre confiante nos seus músicos sorria. E é aqui que se ouve um som agudo, prolongado e enquanto todos iam no dó, o rapaz ainda tocava ré.

O mestre olhou, franziu o sobrolho, coçou a cabeça e a música lá seguiu, mas aquela “ fífia”.....

O rapaz corou. Olhou à volta, coçou um olho e seguiu, mas ficou a pensar. Ele que estudara tão bem a lição, que não desafinava nunca .....

Veio mais tarde a saber, o meu amigo, que o rapazinho do saxofone preto, de tão presunçoso, não levava para os concertos, as pautas sujas ou amachucadas.

Na véspera, quando mais uma vez ensaiou, viu que as pautas não estavam impecavelmente limpas e a seu gosto.

Foi ao quiosque e fotocopiou -as. Agora estavam limpinhas .....

O que ele não viu foi que, junto a uma seminima uma mosca tinha poisado e sem cerimónias colocou ali à frente da nota musical uma “ bolinha” redonda que a fotocopiadora copiou na íntegra aumentando assim o valor da nota musical provocando a tal “ fífia”

O músico, sem se aperceber tocava o “ cócó” da mosca julgando ser um ponto posto lá no lugar certo, desafinando a música, prolongando o som por mais algum tempo.

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