Sentada no degrau da minha casa à conversa com o homem mais idoso da aldeia, veio à lembrança as lagaradas que se faziam no lagar, entre o transportar, esmagar, caldar, e medir o azeite.
A exclamação AH ! Saiu-lhe com um misto de saudade e recordação.
Os olhos, velhos e cansados ganharam um brilho que já lhe não via há muitos anos. Participou em muitas.
Lá para meados de Novembro iniciava-se a safra da azeitona.
Varejar era tarefa dos homens. As mulheres tinham como ocupação , diga-se em abono da verdade , bem pesada de estender os panos ou mantas, debaixo das oliveiras.
Depois, de joelhos, escolhiam as folhas ou ainda curvadas apanhavam os bagos que iam caindo fora.
As azeitonas migravam dentro de sacos de linhagem grossa às costas, para a tulha e mais tarde esperava-as a vaza, onde as mós, pesadas e movidas por um macho, as esmagavam transformando os bagos pretos, luzidios em massa preta e feia.
E o lagareiro gritava lá para o fundo do lagar:
__ Olha o bacalhau que se queima !
E o rapaz corria ligeiro junto da fornalha onde a água borbulhava a ferver
Lá em baixo, junto ao brasido assava o “ fiem amigo”, comprado no dia anterior, na venda do Migalhas.
Posto a demolhar num velho regador que por ali andava, com pouco uso, já.
As batatas dentro da borralha assavam devagarinho. Várias cebolinhas pequeninas , trazidas da celha onde repousavam outras maiores. As pequenas é que eram boas.
E o lagar continuava a trabalhar, numa vagarosa tranquilidade.
Um ou outro passante entrava e aquecia-se à fornalha, bebia uma caneca de café que também o havia sempre, na cafeteira preta do fumo e do calor, pousada na trempe, também dentro da fornalha. Depois ia embora.
E o lagareiro voltava a gritar, agora, junto da prensa:
__ Olha o bacalhau que já cheira !
O moço do lagar corria a tirar as batatas e o bacalhau assado. Sacudia os pedacinhos queimados. Para dentro de um alguidar grande, de barro, ia esborrachando com as mãos calejadas e sujas da cinza e do azeite, as batatinhas, a cebola e desfiava o bacalhau. Cortava os alhos. Colocava -os num púcaro com muito azeite que tirava da “ fonte” ou tarefa e fervia tudo. Findo isto, despejava tudo por cima das batatas e do bacalhau.
Com dois paus de loureiro mexia o cozinhado.
Agora todos os trabalhadores do lagar, paravam o serviço e sentados em volta da mesa comiam de dentro do alguidar.
Acompanhavam com broa cozida à tarde. Ainda quente.
Os mais “ sabidos” escolhiam o bacalhau e deixavam as batatas.
Bebiam um “ copo” acompanhar. Iam molhando pedacinhos de pão no azeite que ficava no fundo do alguidar. Tão bom !
Eram assim as lagaradas há uns bons anos atrás, no lagar da minha avó.
Agora permitam-me um comentário:
__ Ainda bem que não havia ASAE, nesse tempo !
Natércia Martins
Setembro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Este não vai ser mais uma historieta das minhas. Poderá vir a ser parte de algumas histórias mais. Só hoje vi um comentário á minha história O FOGUETÂO.
Se o Amigo Hermenegildo vir esta mensagem gostava que me enviasse um mail para Mnatercia@gmail.com
Lembro-me muito bem do alcunha YSTRICHC. Eu sou filha do Ten Mendes Nunes que era professor de matemática
Um abraço
Natercia Nunes Martins
Se o Amigo Hermenegildo vir esta mensagem gostava que me enviasse um mail para Mnatercia@gmail.com
Lembro-me muito bem do alcunha YSTRICHC. Eu sou filha do Ten Mendes Nunes que era professor de matemática
Um abraço
Natercia Nunes Martins
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